Eu lanço a escrita, mas parece nunca ficar pronto ou do jeito que quero ou o que desejo causar.
Portanto, envio aqui esse relato que ocupou minha mente até o descarrego nessa seguinte escrita. Espero que gostem.
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- G. Doré, The Neophyte - |
Pesadelos (in)certos Sonhos
Dentre reviravoltas dentro à minha própria cama, peguei-me no sono. Estava escuro, somente a luz da lua iluminava uma fresta num canto inóspito do meu aposento.
Com pisos claros, um guarda roupa rangendo e uma janela antiga com algumas das madeiras quebradas, descrevo rapidamente meu quarto que é a entrada da minha atual casa. De cara vemos a cama e ao deitar fico com os pés virados para a porta de entrada e olhando para a direita temos o corredor que atravessa a sala e acaba na cozinha.
Ouvi barulhos vindo de lá, do fim do corredor, barulhos de louça e copos, como se alguém tivesse observando meticulosamente a louça suja do dia passado, mas, não conseguia me mexer ou sequer abrir os olhos. Estava cansado, a semana foi horrível e eu só precisava dormir. E a voz veio como um iceberg gigante dentro de um quadrado de 3m² e nada mais, veio forte, ardente; "Faz tempo que não nos vemos, não é?". Abri os olhos e não sentia meu corpo, muito menos os meus órgãos e me dei conta de que a figura que eu tinha escutado dentro de minha casa era parecida com a de um familiar meu.
Ouvi o barulho da porta destravar e ela ir embora e por um lapso que eu não queria ter era de que a minha mãe tem a chave de casa, caso precise de algo, mas era final de semana, início de sábado e os meus olhos ardiam com o sol que atravessava o vitrô naquela hora e me lembro com todas as certezas de que eu travei minha porta com um trinco que só pode ser aberto por dentro. -"Ent...então como ele entrou?", me perguntei em confusões mentais do que era real e do que era sonho. Na mesma hora levantei correndo, destravei tudo o que trancava a minha porta e saí atrás do que estava dentro do meu quarto. Saí de casa, fui até o portão e olhei para a direita e nada e ao olhar para a esquerda, estava lá, de costas. "É familiar, mas..., quem?" e na hora que fui gritar para chamá-lo, a 'pessoa' virou-se lentamente, com um sorriso maléfico e totalmente ameaçador. A ponta dos cabelos dava um aspecto largado e quando virou-se por fim, meus olhos não podia enxergá-lo por completo e eu via somente sombras, rabiscos e um sorriso que não sairia da mente de ninguém e não desejo que outra pessoa o veja também. Era rasgado, como se não conseguisse parar de rir. Como se uma maldição o tivesse alcançado nos últimos círculos do que não se pode ver mais.
Não lembro de ouvir meu coração bater naquele momento. Fechei o portão com um pavor inominado e entrei correndo para casa e por algum instante estava deitado sem saber quanto tempo já tinha passado desde então.
Acordei ensopado de suor com o meu gato me olhando profundamente, quase que hipnótico.
Era somente um sonho. Isso me tranquilizou até eu cruzar as pernas e me tomar por um gelo incomum que deu inicio no meu diafragma a foi até minhas costas que sentiu todo o caminho de uma gota gelada de suór percorrer toda a minha espinha. Meus pés! Meus pés estavam sujos e quando me tomei pelo medo, incrédulo, confirmei ainda mais que não foi apenas um sonho, ao sentar-se da forma correta para entender e começar a digerir o fato, senti algum objeto no meu bolso e no momento que verifiquei o que era, preferi acreditar que nada estava lá comigo, mas, meus olhos, já acordados viram a minha chave, a chave na qual abri minha porta.
Até que ponto somos enganados pelos mistérios da mente e do que paira no obscuro da terra e de toda sua maldade? Não sonhe. Não se engane. Vença seus pesadelos.
-bittencourt-