Quão importante é um artista pra ti? Sempre há alguma coisa em especial que te faz lembrar momentos e coisas. Quando crescemos (não só de tamanho), se, a sensibilidade não é aflorada por algum tipo de arte que te faz respirar fundo e se emocionar sem ao menos saber o motivo, recomendo que vá atrás de algo que lhe faça sentir isso o quão rápido puder.
Não estou em Sobral, no Ceará, mas falarei de um disco dum cara de lá. Aos 31 anos, em 1977, Antonio Carlos Belchior, lançou uma obra-prima tão boa quanto o seu segundo disco. Não falarei do rasgador de almas "Alucinação", mas sim do romântico e imprescindível "Coração Selvagem".
Aqui, Belcão já nos traz uma sensualidade pela cor que compõe a capa do disco; tons de rosa, lilás, violeta e preto. Com um olhar malicioso e ao mesmo tempo sensivelmente inocente, seu bigode (uma identidade visual única) reflete a um homem confiante em sua sabedoria e incerto sobre suas paixões.
O disco abre com "Coração Selvagem", que é uma declaração explícita de como será o andamento do álbum. Engraçado como é possível notar as respiradas que ele dá entre algumas frases que transparece um sentimentalismo absurdo de comovente. Não tem como escutar essa música, se identificar com alguma estrofe e fechar os olhos para cantar mentalmente.
"Paralelas" é uma facada sentimentalista. É como uma "Guernica" musicada, pois há uma forte descrição sobre as coisas cotidianas que nos ocupam e nos cegam em ver beleza no que podemos considerar feio e comum. -"No Corcovado, quem abre os braços sou eu."-
"Todo Sujo de Batom" é uma descrição dele mesmo sobre o quanto é um eterno romântico. Nessa canção, destaco o instrumental em crescente como a gaita, o sax e a guitarra. É algo que te faz perder o fôlego.
"Caso Comum de Trânsito", encerra o Lado A trazendo de forma super gostosa uma canção mais agitada e com mais guitarra solando. Um jeito de contar uma história extremamente comum do dia que não podemos enxergar sempre.
No início do Lado B, vem uma memória de quando eu era tão criança, tão pequeno que quando tive contato com a obra do Belchior um pouco maior, foi essa música quem me fez lembrar de muita coisa daquele tempo. Eu me lembro dele dizer "O Fantasma Escondido...". "Pequeno Mapa do Tempo" é o nome da música que tem essa fala. É uma passagem por culturas em meio à solidão sentida por alguém. Altamente poética e cultural, por citar de diversos cantos do Brasil.
"Galos, Noites e Quintais", é uma das minhas músicas favoritas, entretanto, essa versão mais Rock, sinceramente, não me atrai muito, por isso, recomendo a versão que ele canta em um acústico chamado "Um Concerto Bárbaro", de 1995. Simplesmente indispensável.
"No Clamor do Deserto", é a música mais complexa de se escutar. A linha de baixo é primorosa e a levada do chimbau conduz a música com uma maestria incomum. Um simples pedido à todos para que não haja desistência de viver.
"Populus", é um som onde Belchior critica o Povo em sua forma quieta, sem luta, sem garra e sem sequer mexer-se para alguma mudança significativa para um todo. Interessantíssima analogia. Vale a escuta e leitura paralela.
Finalizando com um baião com tom de despedida, "Carisma" me parece uma clara homenagem aos artistas que cantarolavam forró pelas ruas de onde morava, o que era coisa que amava fazer (ouvir a cantoria que acontecia nas ruas). Não digo que termina da melhor forma possível, mas ainda sim é um disco maravilhosamente feito para um BIS mesmo tendo acabado de escutar.
Obrigado, Belchior. Simplesmente assim.
"(...) e hoje eu canto muito mais."
Por favor, escutem esse disco com todo carinho do mundo.
Deezer: https://www.deezer.com/pt/ album/58403962
Youtube: https://www.youtube.com/ watch?v=dGzXuHr9uf0
Não estou em Sobral, no Ceará, mas falarei de um disco dum cara de lá. Aos 31 anos, em 1977, Antonio Carlos Belchior, lançou uma obra-prima tão boa quanto o seu segundo disco. Não falarei do rasgador de almas "Alucinação", mas sim do romântico e imprescindível "Coração Selvagem".
Aqui, Belcão já nos traz uma sensualidade pela cor que compõe a capa do disco; tons de rosa, lilás, violeta e preto. Com um olhar malicioso e ao mesmo tempo sensivelmente inocente, seu bigode (uma identidade visual única) reflete a um homem confiante em sua sabedoria e incerto sobre suas paixões.
O disco abre com "Coração Selvagem", que é uma declaração explícita de como será o andamento do álbum. Engraçado como é possível notar as respiradas que ele dá entre algumas frases que transparece um sentimentalismo absurdo de comovente. Não tem como escutar essa música, se identificar com alguma estrofe e fechar os olhos para cantar mentalmente.
"Paralelas" é uma facada sentimentalista. É como uma "Guernica" musicada, pois há uma forte descrição sobre as coisas cotidianas que nos ocupam e nos cegam em ver beleza no que podemos considerar feio e comum. -"No Corcovado, quem abre os braços sou eu."-
"Todo Sujo de Batom" é uma descrição dele mesmo sobre o quanto é um eterno romântico. Nessa canção, destaco o instrumental em crescente como a gaita, o sax e a guitarra. É algo que te faz perder o fôlego.
"Caso Comum de Trânsito", encerra o Lado A trazendo de forma super gostosa uma canção mais agitada e com mais guitarra solando. Um jeito de contar uma história extremamente comum do dia que não podemos enxergar sempre.
No início do Lado B, vem uma memória de quando eu era tão criança, tão pequeno que quando tive contato com a obra do Belchior um pouco maior, foi essa música quem me fez lembrar de muita coisa daquele tempo. Eu me lembro dele dizer "O Fantasma Escondido...". "Pequeno Mapa do Tempo" é o nome da música que tem essa fala. É uma passagem por culturas em meio à solidão sentida por alguém. Altamente poética e cultural, por citar de diversos cantos do Brasil.
"Galos, Noites e Quintais", é uma das minhas músicas favoritas, entretanto, essa versão mais Rock, sinceramente, não me atrai muito, por isso, recomendo a versão que ele canta em um acústico chamado "Um Concerto Bárbaro", de 1995. Simplesmente indispensável.
"No Clamor do Deserto", é a música mais complexa de se escutar. A linha de baixo é primorosa e a levada do chimbau conduz a música com uma maestria incomum. Um simples pedido à todos para que não haja desistência de viver.
"Populus", é um som onde Belchior critica o Povo em sua forma quieta, sem luta, sem garra e sem sequer mexer-se para alguma mudança significativa para um todo. Interessantíssima analogia. Vale a escuta e leitura paralela.
Finalizando com um baião com tom de despedida, "Carisma" me parece uma clara homenagem aos artistas que cantarolavam forró pelas ruas de onde morava, o que era coisa que amava fazer (ouvir a cantoria que acontecia nas ruas). Não digo que termina da melhor forma possível, mas ainda sim é um disco maravilhosamente feito para um BIS mesmo tendo acabado de escutar.
Obrigado, Belchior. Simplesmente assim.
"(...) e hoje eu canto muito mais."
Por favor, escutem esse disco com todo carinho do mundo.
Deezer: https://www.deezer.com/pt/
Youtube: https://www.youtube.com/