quinta-feira, 18 de abril de 2019

Resenha: Belchior - Coração Selvagem (1977)

Quão importante é um artista pra ti? Sempre há alguma coisa em especial que te faz lembrar momentos e coisas. Quando crescemos (não só de tamanho), se, a sensibilidade não é aflorada por algum tipo de arte que te faz respirar fundo e se emocionar sem ao menos saber o motivo, recomendo que vá atrás de algo que lhe faça sentir isso o quão rápido puder.

Não estou em Sobral, no Ceará, mas falarei de um disco dum cara de lá. Aos 31 anos, em 1977, Antonio Carlos Belchior, lançou uma obra-prima tão boa quanto o seu segundo disco. Não falarei do rasgador de almas "Alucinação", mas sim do romântico e imprescindível "Coração Selvagem".

Aqui, Belcão já nos traz uma sensualidade pela cor que compõe a capa do disco; tons de rosa, lilás, violeta e preto. Com um olhar malicioso e ao mesmo tempo sensivelmente inocente, seu bigode (uma identidade visual única) reflete a um homem confiante em sua sabedoria e incerto sobre suas paixões.

O disco abre com "Coração Selvagem", que é uma declaração explícita de como será o andamento do álbum. Engraçado como é possível notar as respiradas que ele dá entre algumas frases que transparece um sentimentalismo absurdo de comovente. Não tem como escutar essa música, se identificar com alguma estrofe e fechar os olhos para cantar mentalmente.
"Paralelas" é uma facada sentimentalista. É como uma "Guernica" musicada, pois há uma forte descrição sobre as coisas cotidianas que nos ocupam e nos cegam em ver beleza no que podemos considerar feio e comum. -"No Corcovado, quem abre os braços sou eu."-
"Todo Sujo de Batom" é uma descrição dele mesmo sobre o quanto é um eterno romântico. Nessa canção, destaco o instrumental em crescente como a gaita, o sax e a guitarra. É algo que te faz perder o fôlego.
"Caso Comum de Trânsito", encerra o Lado A trazendo de forma super gostosa uma canção mais agitada e com mais guitarra solando. Um jeito de contar uma história extremamente comum do dia que não podemos enxergar sempre.

No início do Lado B, vem uma memória de quando eu era tão criança, tão pequeno que quando tive contato com a obra do Belchior um pouco maior, foi essa música quem me fez lembrar de muita coisa daquele tempo. Eu me lembro dele dizer "O Fantasma Escondido...". "Pequeno Mapa do Tempo" é o nome da música que tem essa fala. É uma passagem por culturas em meio à solidão sentida por alguém. Altamente poética e cultural, por citar de diversos cantos do Brasil.
"Galos, Noites e Quintais", é uma das minhas músicas favoritas, entretanto, essa versão mais Rock, sinceramente, não me atrai muito, por isso, recomendo a versão que ele canta em um acústico chamado "Um Concerto Bárbaro", de 1995. Simplesmente indispensável.
"No Clamor do Deserto", é a música mais complexa de se escutar. A linha de baixo é primorosa e a levada do chimbau conduz a música com uma maestria incomum. Um simples pedido à todos para que não haja desistência de viver.
"Populus", é um som onde Belchior critica o Povo em sua forma quieta, sem luta, sem garra e sem sequer mexer-se para alguma mudança significativa para um todo. Interessantíssima analogia. Vale a escuta e leitura paralela.
Finalizando com um baião com tom de despedida, "Carisma" me parece uma clara homenagem aos artistas que cantarolavam forró pelas ruas de onde morava, o que era coisa que amava fazer (ouvir a cantoria que acontecia nas ruas). Não digo que termina da melhor forma possível, mas ainda sim é um disco maravilhosamente feito para um BIS mesmo tendo acabado de escutar.

Obrigado, Belchior. Simplesmente assim.
"(...) e hoje eu canto muito mais."

Por favor, escutem esse disco com todo carinho do mundo.

Deezer: https://www.deezer.com/pt/album/58403962
Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=dGzXuHr9uf0

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Meus Poemas: Ocre



"Era um caminhar torto,
sem rumo, talvez, sem volta.
Sempre me imaginei só 
num apartamento cinzento;
com cheiro de reflexões velhas
e páginas amareladas.

Tudo acabou se tornando novo,
meu caminho mudou,
minha vida tem rumo e cor.

Fique hoje e amanhã.
Farei esse pedido sempre;
Para assim lembrar
que terei o sorriso mais belo.
Toda vez que disser
Que vai ficar aqui comigo.

Deitada, encostada
Em meu peito.
Falando bem baixinho
Que comigo
A sua vida é vinho.

Quanto mais tempo juntos
Mais divino será o gosto
E eu não posso esquecer teu rosto."

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Resenha: Claudio Zoli (1986)

E aí, seus Blueseiros?

Depois que eu consegui arrumar a minha vitrola (com uma boa gambiarra e um receiver que estava parado em casa), voltei a escutar alguns álbuns que eu tenho em casa na íntegra. É uma experiência fora do comum (literalmente), afinal, temos os nossos app de música streaming e soltamos o random e forte abraço. Portanto; mesmo que não tenham uma vitrola, assoprem uns CD's que talvez tenham e façam esse exercício de ler o encarte, ver a arte da capa enquanto escuta o álbum na íntegra. 😉

Sobre o disco que vou falar, eu ainda não o tenho em forma de LP, mas encontrei no Deezer e fiz questão de escutar de fato e não só a que eu mais gostava. Resultado? Me surpreendi demais e coloquei todas na minha playlist!

Estou falando do disco: "Cláudio Zoli (1986)". O álbum que leva o nome do artista em si, foi o primeiro álbum de sua carreira solo, após o fim da Banda Brylho (antiga "Brylho da Cidade", influenciada pelo movimento Black Rio que reunia Tim Maia, Cassiano, Carlos Dafé, Banda Black Rio, Sandra de Sá, entre outros) que teve o seu One-Hit Wonder com "Noite do Prazer".

Antes de citar sobre as canções do álbum, garanto que ficarão surpresos (assim como eu) com o mix quase impensável desse álbum. Tem rock, tem reggae, tem soul, tem funk, tem baladas...tem de tudo! Só vem:

"Sartando Dessa" parece até uma homenagem do Zoli ao Bob Marley; um reggae bem trabalhado e que cai como uma luva no timbre de voz dele e com um refrão envolvente e que faz a gente cantar com uma energia que nem sabia que tínhamos. Sem contar a letra que tem seu lado poético muito interessante.
O disco já embala outro som dançante; a canção "O Show não Pode Parar" tem um suingue que faz chacoalhar (no mínimo) o antebraço enquanto estala os dedos para marcar o ritmo. Um baita som com um timbre de guitarra à lá Michael Jackson.
"Na Chuva" é a balada desse disco. A introdução de teclado, me lembrou aquelas músicas do Guilherme Arantes. É uma boa balada com uma boa crescente no decorrer da música e com um sampler de gotejo durante toda a sua execução. Quando ouvir, nunca mais vai desouvir essa gota.
"Ironia" é quase um Iner Circle brasileiro. Mais um reggaezinho desse disco. Apesar da intro (um tanto quanto estranha) a letra tem uma certa influência no Cidade Negra. É uma boa canção e vale ressaltar os backing vocals. ;)
Enquanto eu escutava o som, eu até estranhei e abri o Player de música para ver se eu estava no mesmo álbum. Sério a mudança é brusca e você pensa que foi jogado para o primeiro disco do RPM ou está num filme futurístico de carros voadores feito numa (fictícia) "Bollywood" brasileira, por fim, "Deuses Atrozes" é um som legal pra caramba (apesar da pequena zoeira comparativa).
"Livre Pra Viver" é um samba-merengue com aqueles baixos quase sintetizados, muito presentes em Smooth Criminal, por exemplo. Não sei como ele faz isso, mas é um refrão mais legal que o outro nesse disco e essa canção é um exemplo disso.
"Meu Sonho" vem com uma energia fora de série; a canção que tem um dueto incrível com Cassiano traz aquele Funk (verdadeiro) delicioso de se escutar e parece que a gente consegue ouvir a felicidade no timbre de voz do Cláudio nessa canção. Acredito que tenha sido especial pra caramba! Uma canção indispensável.
Chegamos num bar e depois de umas boas doses ficamos cabisbaixo. Um piano começa e você já sabe que vai vir aquela facada na alma e no ego. Quando ele canta a primeira estrofe de "Coleção", você pensa: Ué, mas eu coonheço esse som com a Ivete. Nesse disco, a música está com um tom sombrio de jazz muito que do bem feito. Como dizem por aí: "QUE HINO!".
A minha introdução ao som do Cláudio, veio através dessa música; "Cada Um, Cada Um (A Namoradeira)" é uma música que eu posso escutar 800 vezes que eu não vou enjoar. O solo de sax é incrível e a volta do solo para o refrão, trazendo a crescente impecável da música é o que não consigo descrever. É uma puta sensação boa! Musicão! Se eu falar muito até estraga.
Na minha opinião "Show Business" é a canção mais fraca do disco, apesar de ter os elementos de todas as canções anteriores, não acho que deu muito certo. Fecha o disco não tão magicamente, porém, tudo o que veio antes ameniza.

Bem, espero que gostem e que façam o exercício de escutar um álbum por completo do seu artista favorito (ou não).
Para uma coleção ou até mesmo introdução à esse nosso movimento, Cláudio Zoli é uma boa pedida.

DEEZER: https://www.deezer.com/br/album/1215357
YOUTUBE: https://www.youtube.com/watch?v=AlTUyJL-wnQ

Veja essa também. ;)

Meu Livro: Prólogo (Aos Três: Um último caso).